segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Moscas en la casa

A vida mais doce é não pensar em nada. (Nietzsche)
Os olhos abertos procurando o nada. Nem mesmo o Nada a fascinava mais. Sua mão deslizava ao lado direito da cama sobre o lençol que meses atrás era branco. Nada. Vazio. Se fazia Sol ou chuva ou os dois, ela já esquecera como eram senti-los. Só sabia agora qual era o sentido do escuro.
Levantava, ia ao banheiro. Sentava na privada e olhava o nada. Saía. Ia à cozinha. Comida podre de meses atrás. Ia à sala. A televisão não ligava. Cartas embaixo da porta. Faz semanas, garota, que cortaram a energia elétrica!
Eu sabia que não havia motivos pra levantar, porque tudo era o vazio, era o Nada. Eu pensava o Nada, alimentava o Nada, só se ouviam as moscas na casa fazendo a sinfonia cintilante delas. Pensei em parar o respiro. As moscas pousaram em mim. Ofegante.
Não se soube se o eu era ela ou se ela era eu. Tanto faz agora. Havia dor no coração. Talvez fosse uma daquelas doenças cardiovasculares - pelo menos era isso que tentavam colocar na cabeça. Talvez as moscas um dia irão embora. Enquanto isso esperar, esperar, esperar.

Jun/09

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